Em defesa da Cultura Pública
por Jesuina Passaroto
(Violista e Presidente da Associação da Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro)
Prezado Henrique
Antes de qualquer comentário, quero agradecer
muito por este texto e parabenizá-lo pelo impacto que está causando.
Enquanto os presidentes que passam por esta
casa visualizarem somente o lucro financeiro que este espaço luxuoso pode oferecer,
não teremos uma programação digna.
Nós artistas temos lutado muito durante todo
este tempo não só por uma programação mais digna com o nosso potencial e
vontade, mas lutamos também pela volta dos nossos projetos da área social.
Alem de artistas, somos servidores públicos e
temos a obrigação, perante a sociedade, de promover a CULTURA PÚBLICA.
No início desta gestão levamos aos
responsáveis pelo TM vários projetos voltados para esta área. Nenhum deles
aconteceu e os que existiam foram engavetados. Nossa programação foi reduzida a quase nada,
o pouco que acontece é graças aos "buracos" dos aluguéis deste
espaço.
Os músicos cobram eternamente mais concertos
sinfônicos, e a resposta que recebemos da direção é que concertos sinfônicos
não são prioridades para eles. Lamentável esta resposta. O verdadeiro músico
sabe o quanto a música sinfônica é necessária para o aprimoramento do conjunto.
Mas não somos nós que temos o poder da caneta.
A sub-utilização dos Corpos Artísticos do TM
é um desperdício para a sociedade e degradante para o artista. Incentivo zero. Indo na contramão do que está
previsto dentro do estatuto do servidor público, onde se fala do incentivo,
aprimoramento e promoção do servidor por seus diretores.
Penso ser todas estas atitudes uma tentativa
de provar a desnecessidade da nossa existência, para o público e para a
sociedade. Algo do tipo: Eles não precisam existir, por isso tentamos acabar
com eles, não conseguimos na primeira vez, então vamos deixá-los morrerem de
fome e de sede.
Foi-se o tempo em que a culpa da programação ruim
recaía em cima do artista. Hoje o público sabe que não somos nós que nos
programamos.
Sabemos do nosso potencial; sabemos o quanto é difícil e lento repassar os saberes e fazeres da nossa arte; sabemos o quanto podemos oferecer à sociedade enquanto ferramentas de transformação; e o mais importante: sabemos o quanto queremos ser tudo isso.
O verdadeiro artista sabe que o lucro que ele pode gerar não se conta em cifrão.
Desperdiçar esta cultura pública, desperdiçar
este artista público, desperdiçar esta oportunidade de transformação na
sociedade, desperdiçar os ensinamentos de mais de 100 anos de existência é um
disparate.
A grande diferença entre nós servidores e os
dirigentes que passam por esta casa é que NÓS SOMOS o Theatro Municipal e ELES
ESTÃO no Theatro Municipal. E lutaremos por este palco mágico eternamente.
Como você mesmo disse, esta luta não pode
ficar restrita aos artistas servidores, ela é de TODA a população brasileira.
Um grande abraço e obrigada por apoiar a
nossa luta.
Jesuina Passaroto
O texto do Henrique foi extremamente claro e importante para acender um refletor sobre esta questão lamentável em que se encontram, não só os corpos estáveis do Theatro Municipal do Rio de Janeiro (orquestra, coro e balé) - todos desfalcados e necessitando de renovação urgente, o que se dá, num Estado democrático, a partir de concursos públicos. Mas, também, e principalmente, que por conta desta situação, há muito tempo a programação artística vem sofrendo sucessivos cortes. Pouquíssimas montagens de óperas por ano (e as poucas que foram realizadas, algumas foram em forma de concerto), poucos balés e concertos sinfônicos, praticamente nenhum, até onde me recordo. Em contrapartida, o TMRJ vem sendo palco de muitos eventos, diferentes tipos de premiações... vêm ocupando precioso palco de uma das mais nobres casas de ópera e concertos do Brasil e da América do Sul.
ResponderExcluirNeste momento em que o Brasil está no foco das atenções mundiais devido à estabilidade econômica conquistada nos últimos anos e, principalmente, pelos grandes eventos esportivos que estarão acontecendo por aqui proximamente, convém refletir que tudo isso é muito importante, mas não podemos esquecer daqueles que são os servos da Cultura e da Arte, daqueles que vivem do fazer cultural em prol da sociedade carioca/brasileira. Na verdade, o que todos nós, cariocas/brasileiros, queremos é que haja crescimento econômico e social, com franco DESENVOLVIMENTO CULTURAL. Pois a cultura é um instrumento poderosíssimo para a integração, a transformação e a justiça social. Pensando por este prisma, a cultura passa a ser gênero de primeira necessidade, e verdadeiramente o é. A Cultura de um Estado, de um país é, sem dúvida alguma, o seu maior patrimônio, a sua maior riqueza. É a sua identidade, pois nela habita a essência do ser humano. É ela quem nos distingue como BRASILEIROS. Como deixar a produção artística deste Theatro morrer desta forma? Como não estar sensível às reais necessidades dos artistas-servidores desta casa? Como não cumprir, não promover o que está previsto no estatuto do servidor público “... onde se fala do incentivo, aprimoramento e promoção do servidor por seus diretores.”
É impossível assistir tudo isto, ler o texto do Henrique e o da Jesuína Passaroto e não me solidarizar a esta causa, deixando registrado aqui o meu apoio aos artistas que integram os corpos estáveis do TMRJ. É incrível ver que os funcionários públicos desta casa têm mais lucidez e consciência de seu papel na sociedade do que aqueles que a administram e que deveriam, em primeiro lugar, estar zelando pelo maior bem que ela possui: os seus ARTISTAS! Aqueles que são os veículos da transformação social e estética que só a ARTE pode produzir numa sociedade. De que adianta um prédio luxuoso, pintado com tinta dourada reluzente, com lustres e pinturas maravilhosas, sem os ARTISTAS? Sem aqueles que, com sua arte, “tocam” as nossas almas?
Por fim, proponho que seja organizada uma grande mobilização pública para esta causa, a partir de um abraço simbólico de todos os artistas, estudantes de músicas das faculdades de música do Rio, do grande público que frequenta o TMRJ, com ampla divulgação na mídia para ver, se desta forma, o governador autoriza o concurso público tão necessário a continuidade deste grande centro de produção cultural e, também, que os projetos sociais voltados à arte tornem a fazer parte da programação sócio-educativa-cultural que uma casa como essa deve ter como responsabilidade social à sociedade carioca.
Ueslei Banus
Maestro da Orquestra Jovem
Conservatório Brasileiro de Música/RJ
Boa idéia a de abraçar o TM, Ueslei.
ExcluirO maestro Jorge Antunes também fez a mesma sugestão em comentário aqui no blog. Ele propôs que fosse no dia 02 de dezembro, data da estréia de "O Guarany" (02/12/1870).
A iniciativa agora é dos funcionários do TM, que já estão se mobilizando.
Aproveito para mandar por você um abraço ao meu amigo Marco Maceri, que ainda deve estar no Conservatório.
abraço
Henrique