quarta-feira, 15 de maio de 2013

A Vaia na Ópera




por Oscar Peixoto (1934-2012)
Publicado originalmente em novembro de 2008 no Portal Luis Nassif, em

Você alguma vez já ouviu falar que um famoso pianista tenha sido vaiado em determinada apresentação? Ou de um violinista renomado que tenha sido apupado porque desafinou uma notinha em uma partitura imensa? Não se sabe de platéia que vá a um concerto e fique na expectativa de uma determinada nota a ser tocada. Será que o violinista vai dar aquela nota acutíssima, ou vai falhar? Suspense. Pois na ópera, isso acontece e com mais freqüência do que se imagina. Artistas de primeira, cantores de altíssimo gabarito, estão sempre expostos a esse risco. Por melhor que cante e interprete seu papel, se não der aquele “dó de peito”, se o diafragma falhar naquele momento crucial, vai por água abaixo todo o seu esforço, todo o trabalho de anos de estudo. Uma notinha só, perdida entre centenas de outras, muitas vezes até mais difíceis de serem executadas, é o suficiente para a catástrofe total.

Conseqüência: a vaia ou, o que é quase tão arrasador quanto, aquele murmúrio desconfortante de decepção e desaprovação por parte da platéia.

O mundo da ópera é um pouco diferente dos demais mundos artísticos. Dentro do universo musical, eu diria que é um mundo à parte. Por algum motivo, a ópera desperta nos aficionados paixões exacerbadas, disputas acirradas entre os fãs de um artista e os de outro seu concorrente, sem que haja razão aparente, seja do ponto de vista técnico, seja do ponto de vista meramente musical (algo assim como acontece no futebol, outro mistério passional). Mas o fato é que acontecem, de forma mais sofisticada e elitizada, disputas entre os fãs-clubes do soprano A e os do soprano B. Algo parecido com o que acontecia na era de ouro do rádio entre os fãs da Marlene e os da Emilinha. Mesmo quem não viveu aquela época possivelmente tem notícia dessa disputa que durou enquanto aquelas cantoras estiveram em atividade.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Mediocridade e indigência cultural na Cidade do Rio de Janeiro






por Henrique Marques Porto

Está em curso no Rio de Janeiro, a cidade onde nasceu e viveu Heitor Villa-Lobos, uma deliberada e bem orquestrada campanha para institucionalizar na Capital a mais infame mediocridade cultural, que atingirá diretamente a produção e a difusão da música de qualidade, seja a chamada “clássica”, seja a chamada “popular” –classificações que o autor usa entre aspas por entender que são inapropriadas. 
   
O tom pode parecer alarmista ao leitor, mas não é. Apenas expressa os fatos recentes e a crescente desertificação cultural do Rio de Janeiro no que toca à música. 

Nas vésperas do feriado do Dia do Trabalhador, em meio ao barulho do ambiente e à cacofonia urbana, o Prefeito do Rio, Eduardo Paes, decidiu vocalizar umas tantas besteiras e mostrou os dentes para a Orquestra Sinfônica Brasileira, desmentindo o ditado “cão que ladra, não morde”. Paes falou muito e mordeu com ferocidade. Falou inclusive sobre o que não conhece, e até sobre o que não é da sua conta.