por Marcos Menescal
A
ópera “Lo Schiavo” de Carlos Gomes teve uma carreira peculiar. Se o célebre “Il
Guarany”, a arrojada e consistente “Fosca”, a desafortunada “Maria Tudor” e o
exótico “Condor”, tiveram as suas estreias no Scala de Milão; se o “Salvator
Rosa”, depois da sua estreia no Carlo Felice de Gênova, ganhou todos os teatros
da Itália, tornando-se uma das óperas mais populares daquele período; “Lo Schiavo”,
considerado por muitos a mais bela das óperas de Carlos Gomes, por diversas
razões, estreou no Teatro Imperial D. Pedro II do Rio de Janeiro (com o advento
da República, rebatizado de Lírico), em 1889, e, ao que eu saiba, nunca foi cantado
na Itália. Sua primeira montagem europeia, de escassa repercussão, deu-se em
Berna, Suíça, mais de 80 anos após a estreia carioca. Talvez essas
circunstâncias expliquem o fato dessa belíssima ópera não ser conhecida mundialmente.
“Lo
Schiavo” foi sempre uma das favoritas do público brasileiro. No Municipal do
Rio, foi a segunda ópera brasileira mais montada, depois do famoso “Il
Guarany”.
Entre
1917 e 1972, foi levada em 21 temporadas, e cantada e regida por alguns nomes
que hoje fazem parte da história da ópera no século XX.
Assim,
já em 1917, a célebre Ninon Vallin interpretava a Condessa de Boissy. Nesse
mesmo personagem, que se limita ao segundo ato da ópera, tivemos, em 1921, nada
menos do que Toti dal Monte. Intérpretes célebres de Iberê foram Giacomo
Rimini, Armando Borgioli e Enzo Mascherini. Ilara foi interpretada por Rosa
Raisa, Gina Cigna, Margherita Grandi, Norina Greco e Elisabetta Barbato. Como
Americo, tivemos Frederick Jagel, Angelo Mingheti e o grande Galliano Masini.
Entre os regentes da ópera, destaca-se Gino Marinuzzi.
Destacaram-se
também os cantores brasileiros Sylvio Vieira, Lourival Braga e Fernando
Teixeira (Iberê); Adjaldina Fonetenelle, Ida Miccolis e Graciema Félix de Souza
(Ilara); Roberto Miranda, Assis Pacheco e Alfredo Colosimo (Americo); Alma
Cunha de Miranda, Diva Pieranti e Antea Claudia (Condessa). Os três regentes
brasileiros dessa ópera no TMRJ foram Eleazar de Carvalho, Santiago Guerra e
Edoardo De Guarnieri.
Em
1976, o Municipal, fechado para reforma, apresentou a ópera em forma de
concerto no Teatro João Caetano, sob a regência de Eleazar de Carvalho.
Dessa
data até 1999, “Lo Schiavo” esteve ausente do nosso teatro, retornando numa
produção de Fernando Bicudo, que rodou por várias capitais brasileiras, com os
corpos artísticos de Belo Horizonte.
A
próxima montagem, a estrear no dia 21 de outubro, com direção de Pier Francesco
Maestrini, regência de Roberto Duarte, e com Rodolfo
Giuliani, Adriane Queirós, Fernando Portari, Claudia Azevedo, Saulo Javan, Leonardo
Páscoa e Pedro Olivero no elenco, será a primeira a ser levada no TMRJ neste
século.
Como
se pode observar, as montagens de “Lo Schiavo” têm sido cada vez mais raras, o
que é uma pena porque trata-se de uma verdadeira obra prima.
Abaixo,
a lista completa das apresentações de “Lo Schiavo” no Teatro Municipal do Rio,
com os seus regentes e com os intérpretes dos seus principais personagens.
1917
Iberê: De Francheschi
Ilara: Teresina Burchi
Americo: Carlo Hackett
La Contessa di Boissy: Ninon
Vallin
Regente: Franco Paolantonio
1921
Iberê: Giacomo Rimini
Ilara: Rosa Raisa
Americo: Angelo Minghetti
La Contessa di Boissy: Toti Dal
Monte
Regente: Gino Marinuzzi
Rosa Raisa, Gina Cigna (em ‘Isabeau’), Elisabetta Barbato (em ‘Lo
Schiavo’) e Ida Miccolis (em ‘Jupyra’)
1936
Iberê: Armando Borgioli
Ilara: Gina Cigna
Americo: Aureliano Marcato
La Contessa di Boissy: Maria Sá
Earp
Regente: Angelo Questa
1937
Iberê: Armando Borgioli
Ilara: Margherita Grandi
Americo: Galliano Masini
La Contessa di Boissy: Thea
Vitulli
Regente: Angelo Questa
Armando Borgioli (em ‘Un Ballo in Maschera), Sylvio Vieira, Enzo
Mascherini e Fernando Teixeira (em ‘Rigoletto’)
1938
Iberê: Sylvio Vieira
Ilara: Adjaldina
Fontenelle/Nanita Lutz
Americo: Antonio Salvarezza
La Contessa di Boissy: Alma
Cunha de Miranda/Thea Vitulli/Germana de Lucena
Regente: Edoardo De Guarnieri
1939
Iberê: Sylvio Vieira
Ilara: Adjaldina Fontenelle
Americo: Tomaz Filipetti
La Contessa di Boissy: Alma
Cunha de Miranda
Regente: Edoardo De Guarnieri
1940
Iberê: Sylvio Vieira/Paolo
Ansaldi
Ilara: Adjaldina
Fontenelle/Carmen Gomes
Americo: Galliano
Masini/Roberto Miranda
La Contessa di Boissy: Tita
Ferreira/Haydée Brasil
Regente: Edoardo De
Guarnieri/Santiago Guerra
1942
Iberê: Sylvio Vieira
Ilara: Olga Nobre
Americo: Tomaz Filipetti
La Contessa di Boissy: Rachel
Souza Pinto
Regente: Eleazar de Carvalho
1943
Iberê: Sylvio Vieira
Ilara: Norina Greco/Maria
Helena Martins
Americo: Frederick
Jagel/Roberto Miranda
La Contessa di Boissy: Maria Sá
Earp/Maria Augusta Costa
Regente: Eleazar de Carvalho
1945
Iberê: Sylvio Vieira
Ilara: Maria Helena Martins
Americo: Frederick
Jagel/Roberto Miranda
La Contessa di Boissy: Maria
Augusta Costa
Regente: Eleazar de Carvalho
Galliano Masini (em ‘Carmen’), Frederick Jagel (em ‘Simon Boccanegra’),
Assis Pacheco (em ‘Otello’) e Alfredo Colosimo (em ‘Madama Butterfly’)
1949
Iberê: Paolo Ansaldi
Ilara: Mary Gazzi
Americo: Roberto Miranda
La Contessa di Boissy: Alaide
Briani
Regente: Santiago Guerra
1951
Iberê: Enzo Mascherini
Ilara: Elisabetta Barbato
Americo: Assis Pacheco
La Contessa di Boissy: Diva
Pieranti
Regente: Eleazar de Carvalho
1954
Iberê: Lourival Braga
Ilara: Wanda Sposito
Americo: Alfredo Colosimo
La Contessa di Boissy: Diva
Pieranti/Helena Pimentel/Antea Claudia
Regente: Santiago Guerra
1957
Iberê: Lourival Braga
Ilara: Ida Miccolis
Americo: Alfredo Colosimo
La Contessa di Boissy: Antea
Claudia
Regente: Santiago Guerra
1959
Iberê: Lourival Braga
Ilara: Ida Miccolis
Americo: Alfredo Colosimo
La Contessa di Boissy: Antea
Claudia
Regente: Santiago Guerra
1961
Iberê: Paulo Fortes
Ilara: Maria Sá Earp
Americo: Alfredo Colosimo
La Contessa di Boissy: Diva
Pieranti/Lysia Demoro
Regente: Santiago Guerra
1963
Iberê: Lourival Braga
Ilara: Angelina Cosmo
Americo: Assis Pacheco
La Contessa di Boissy: Diva
Pieranti
Regente: Edoardo De Guarnieri
Ninon Vallin, Toti dal Monte (em ‘Madama Butterfly’), Diva Pieranti (em
‘Il Guarany’) e Antea Claudia (em ‘La Traviata’)
1967
Iberê: Lourival Braga
Ilara: Graciema Félix de Souza
Americo: Constante Moret
La Contessa di Boissy: Antea
Claudia/Célia Coutinho
Regente: Santiago Guerra
1969
Iberê: Lourival Braga
Ilara: Graciema Félix de Souza
Americo: Constante Moret
La Contessa di Boissy: Antea
Claudia
Regente: Santiago Guerra
1971
Iberê: Fernando Teixeira
Ilara: Wanda Sposito
Americo: Constante Moret
La Contessa di Boissy: Antea
Claudia
Regente: Eleazar de Carvalho
1972
Iberê: Fernando Teixeira
Ilara: Graciema Félix de Souza
Americo: Constante
Moret/Zaccaria Marques
La Contessa di Boissy: Dea
Escobar
Regente: Santiago Guerra
1976 (no Teatro João Caetano,
em forma de concerto)
Iberê: Fernando Teixeira
Ilara: Graciema Félix de Souza
Americo: Assis Pacheco
La Contessa di Boissy: Niza de
Castro Tank
Regente: Eleazar de Carvalho
1999 (Produção Ópera Brasil,
com os corpos artísticos de Belo Horizonte)
Iberê: Louis Ottey/Sebastião
Teixeira
Ilara: Nina Edwards/Aída Baptista
Americo: Stephen Mark Brown/Peter Riberi
La Contessa di Boissy: Maude
Salazar/Rose Marie Todaro/Sylvia Klein
Conte Rodrigo: Mario
Bertolino/Eliomar Nascimento
Goitacà: Luiz-Ottavio
Faria/Maurício Luz
Gianfera: Francisco
Neves/Leonardo Páscoa/Manoel Alvarez
Regente: Eugene Kohn
Considero uma verdadeira aula o artigo escrito pelo Tenor do Teatro Municipal do Rio de Janeiro - Marcos Menescal.
ResponderExcluirGosto muito dos textos do Menescal, porque nos enaltece em conhecimento e paixão pela arte lírica.Bravo!!
Wellen Barros
Muito obrigado pelo seu apoio, querida Wellen Barros!
ExcluirParabéns, Marcos, pelo excelente resgate dessa magnífica obra de Carlos Gomes. Permita-me apenas uma correção quanto à nossa montagem de 1999. O Coro e a Orquestra eram do Palácio das Artes, sim, mas o Corpo de Baile era o Ballet Ópera Brasil, que ficava no Teatro Arthur Azevedo de São Luís, dirigido pelo nosso querido Antonio Gaspar, de saudosíssima memória, autor da coreografia.
ResponderExcluirObrigado pelo esclarecimento, caro Fernando Bicudo. Aproveito para mais uma vez, e depois de tantos anos, parabenizá-lo por aquela maravilhosa produção de tanto sucesso. Assisti a duas récitas realmente memoráveis, que provocaram um entusiasmo indescritível no público do Municipal. Um grande abraço.
ExcluirExcelente artigo Marcos!! Vamos fazer Carlos Gomes no Cinema!!!! Já tenho adesões importantes.Junte-se a nós!!!!!
ResponderExcluirCom prazer! Obrigado, Fernando Muniz!
ExcluirFaltou mencionar 3 Ilaras de peso, que fizeram muito sucesso aqui em São Paulo, Antonietta Stella, Renata Lucci e Leila Guimarães. Junto com Stella cantou Giuseppe Taddei no Papel de Ibere.
ResponderExcluirCaro José Maria, como você pode observar, trata-se de um levantamento das apresentações de "Lo Schiavo" no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
ExcluirAbraço.
Marcos, parabéns por seus artigos! Eis a nossa missão: resgatar uma história que não pode ficar soterrada na linha do tempo. A ópera que aqui se faz hoje guarda o DNA das grandes montagens do Municipal. Esta aura há de nos fortalecer e fazer o melhor com o pouco incentivo do Estado e da iniciativa privada. Não vi Lo Schiavo mas soube que foi um sucesso. Parabéns por sua atuação como artista, cantor e cultor dessa história tão linda? Abraços
ResponderExcluirMuito obrigado pelo incentivo, Comba!
ExcluirUm grande abraço!
Marcos, é com grande prazer que leio sobre esse período das óperas no Rio de Janeiro e constato, com grande alegria, que minha avó, Adjaldina Fontenelle, teve papel de destaque no canto lírico nacional e carioca. Seu artigo é bastante informativo e agardeço em nome de nossa família poder ler palavras tão simpáticas e observações interessantes sobre esse período, no Rio de Janeiro. Uma pena não ter visto minha avó cantando ópera,mas lembro-me quando criança, da sua potência vocal ao cantar, sem compromisso, em casa. Parabéns por sua coluna. Abraços.
ResponderExcluirMuito obrigado, Monica!
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