terça-feira, 25 de junho de 2013

Manifesto em São Paulo. Em defesa do artista nacional.





"Os abaixo assinados, cantores líricos, diretores cênicos, iluminadores, maestros, artistas e amantes da ópera vêm por meio deste documento demonstrar sua profunda insatisfação e descontentamento com a forma como a classe artística vem sendo tratada e com a situação a que vem sendo relegada nas últimas décadas e, em especial, desde a assunção da atual gestão do Theatro Municipal de São Paulo. 

O nosso Theatro Municipal, bem público, gerido por uma entidade pública e fundeado com recursos públicos do município tem, além da função de promover espetáculos à população, a missão inescapável de fomentar e promover a atividade de ópera no país, valorizando o artista nacional sobre o estrangeiro. 

Não é possível e não podemos aceitar pacificamente que um maestro contrate a seu bel prazer um grande número de artistas estrangeiros representados por uma agência internacional, sendo que esta mesma o representa na Itália. Há um claro conflito de interesses entre a coisa pública e os interesses privados. 

segunda-feira, 24 de junho de 2013

"Audizioni per ruoli per il Teatro Municipal di Rio de Janeiro"





“De onde menos se espera, daí é que não sai nada.”
(Aparício Torelli, o Barão de Itararé)

por Henrique Marques Porto


É uma tarefa ingrata tentar transmitir ao leitor boas notícias se o assunto é o Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

Quando se esperava que a presença do maestro Isaac Karabitchevsky como responsável pela programação do Theatro Municipal trouxesse algum alento para a ópera no Rio de Janeiro, o meio musical carioca foi surpreendido na semana passada com a insólita notícia de que o respeitado regente está no interior da Itália selecionando “estudantes de canto” na instituição Cantare l’ Opera para serem os solistas principais de uma suposta temporada lírica em 2014. Escrevo no condicional porque a direção do Theatro Municipal não fez nenhum anúncio oficial a respeito da mencionada temporada, muito menos sobre suas incursões na Itália em busca de solistas.  Os títulos escolhidos para 2014, inclusive com as datas, foram informados, em primeira mão, pelo site do Cantare l’ Opera. O leitor acha estranho? Tudo é estranho e misterioso no Theatro Municipal.
Link abaixo. 

Hoje, dia 24/06, o TM anunciou que haverá também audições no Rio, para cantores brasileiros. Curiosamente, o anúncio apareceu depois que a notícia das audições na Itália circulou como denúncia nas redes sociais. 

sexta-feira, 14 de junho de 2013

“Nabucco”. Royal Opera House. Abril de 2013.




por Comba Marques Porto

Meu pai, Henrique Marques Porto (1898-1969), dizia que a ópera “Aida” poderia se chamar “Amneris”, de tão linda e intensa a escrita de Verdi para a personagem que encarna a impiedosa rival da princesa etíope escravizada pelos faraós. Talvez o mesmo se aplique à ópera “Nabucco”, que bem poderia se chamar “Abigail”, de tão interessante que é a dificílima parte de soprano escrita por Verdi para a sua terceira ópera apresentada pela primeira vez em 09 de março de 1852 no teatro Alla Scala de Milão.

Consta que Verdi recebeu especial estímulo de soprano Giuseppina Streponi (1815-1897) para compor “Nabucco”. Giuseppina, que já brilhava como cantora lírica, foi a primeira interprete de Abigail. Digamos que Verdi tenha escrito a Abigail para ela, com plena ciência de sua capacidade para bem resolver as dificuldades vocais criadas para a parte de soprano da referida obra – repetidos contrastes entre notas agudas e graves, intensidade dramática, pianíssimos cabulosos, etc. Este envolvimento de Giuseppina Streponi com a composição de “Nabucco” está mencionado no livro “A Ópera” de Zito Batista Filho (Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira, 1987). O fato é que, a partir deste encontro artístico, Giuseppe Verdi e Giuseppina Streponi selaram uma longa parceria afetiva. Passaram a viver juntos, uma “ligação de mais de meio século, a duração de suas vidas” (Zito).