Mostrando postagens com marcador Met. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Met. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 4 de março de 2013

Parsifal – “Gesamtjunsterke”. Obra de arte total, festiva e votiva.



René Pape, Jonas Kauffmann e Katarina Dalayman


por Ildefonso Côrtes

Semana que precede à estreia de Parsifal, em tempo real, Nova York, temporada 2013, Metropolitan Opera House, uns dos templos da ópera no mundo.


          Em casa, revivo cenas gravadas no Festival de Bayreuth, Siegfried Jerusalem, Parcifal. No templo wagneriano, na cidadezinha alemã de Bayreuth, o teatro construído pelo Rei Ludwig II, da Baviera para acolher, todos os anos, representações das óperas de Richard Wagner (1813-1883), de quem o monarca era admirador apaixonado e mecenas. 
 A encenação contava com Orchester und Chor der Bayreuther Festspiele regidos por Horst Stein e Norbert Balastch, respectivamente.


          Não sei se à época respeitava-se o desejo de Wagner de que os espectadores se abstivessem de aplausos entre primeiro, segundo e terceiro atos, a fim de não dissipar o clima de encantamento místico, o caráter de unção religiosa, que a música transcendente criava na audiência. (Continua)

terça-feira, 3 de abril de 2012


“Clone” de 
A Ópera em questão

As transmissões de óperas ao vivo em HD

 "A solução mais cara seria explodir as casas de ópera”.
Pierre Boulez  em 1972

Não resta dúvida de que as transmissões ao vivo de óperas do Met e do Royal Opera House, sobretudo no primeiro caso, são um sucesso. O que não quer dizer que o projeto inaugurado em 2006 pelo alemão Peter Gelb, diretor do Metropolitan, esteja livre de críticas e até de alguma polêmica. 

No Rio de Janeiro, em São Paulo, Buenos Aires, Lisboa, Belfast, ou mesmo em Pequim a avaliação mais corrente é de que assistir às transmissões ao vivo, com imagem de alta definição, em salas de cinema, é a única opção para a maioria dos amantes da ópera. 

Peter Gelb, diretor do Met

“É engraçado: em algumas sessões, o público aplaude entre as árias. Eles estão aplaudindo quem? Acho que estão aplaudindo a ópera como gênero e a possibilidade de estar ali, em comunidade, tendo acesso a ela” –disse Gelb, em 2009, numa entrevista a Luiz Paulo Sampaio, de “O Estado de São Paulo”. 

Não, Mr. Gelb. Os aplausos não foram para o senhor, embora os mereça. Foram para os cantores mesmo. É assim aqui do lado de baixo da linha do equador.

Ao assumir a direção do Met em 2006, Peter Gelb identificou dois problemas: 1) a média de idade dos frequentadores do teatro era de 65 anos; e mais grave, 2) a situação financeira do Met ia de mal a pior, agravada pelas ameaças da crise econômica americana, que logo se tornaria global. O Met depende do patronato para se manter e estava diante de uma real situação de risco –a perda de receitas provenientes das doações. Era necessário, portanto, encontrar novas fontes de captação de recursos. Não foi tarefa difícil para Peter Gelb, um experimentado executivo que acabara de deixar o comando da Sony Music para assumir o posto de manager do Met. Gelb pôs em execução o que chamou “Projeto HD”. Eram as óperas montadas no Met chegando, ao vivo, aos cinemas de todo o mundo. 

O objetivo principal do ambicioso projeto estava bem claro: captar recursos para o Metropolitan Opera House. Gelb pode festejar. As transmissões de óperas ao vivo, em HD, chegam atualmente a 1.700 salas de cinema em 54 países e geram um lucro líquido de US $11 milhões para o Met. 

É verdade que as transmissões ao vivo são capazes de atrair público para a ópera. Mas por enquanto, seu resultado é apenas este: uma tacada certeira de Peter Gelb, que tirou do vermelho as finanças do Metropolitan, um teatro que possui um orçamento anual de 300 milhões de dólares. Para efeito de comparação, o Theatro Municipal do Rio de Janeiro teve em 2011 um orçamento total de 53 milhões de reais. 

Quer dizer, então, que o público brasileiro estaria condenado a jamais ver em seus próprios teatros de ópera as grandes estrelas do canto lírico? Talvez. Mas, não seremos apenas nós, o público brasileiro, que ficaremos sem Jonas Kauffmann, Anna Netrebko, Elina Garanca e tantos outros grandes artistas. Eles, os artistas, também estarão privados de conhecer de perto o seu público! No Rio de Janeiro, em São Paulo ou em Buenos Aires. 

Esse esquema milionário que concentra as produções de ópera em dois ou três centros e transmite para as periferias os espetáculos com imagem HD, ou oferece reprises ao público (projeção de um DVD na tela de um cinema) tira dos artistas o que é mais importante para eles: o contato direto com o público!  

As palmas que batemos aqui não são as mesmas que batem lá fora. O público brasileiro de ópera não é solene e frio, como o de Viena ou o de Londres. O público brasileiro é passional. Nós berramos, pedimos bis, assoviamos, gritamos os nomes dos cantores, queremos vê-los de perto. Enfim, somos acolhedores e calorosos.  

Portanto, não somos apenas nós que estamos privados desses artistas de que gostamos tanto. Eles também estão sendo privados de nós! Se nos conhecerem vão querer voltar sempre. Idem em relação aos argentinos, mexicanos, venezuelanos e uruguaios -povos que também cultivam o gosto pela música e a ópera em particular. 

De minha parte fico feliz em contribuir para a saúde financeira do Metropolitan, embora Nova York continue a fazer pouco caso dos nosso sobrevalorizado real. Mas confesso que muito melhor seria estar contribuindo para a produção de óperas aqui mesmo no Rio de Janeiro, no teatro que construímos para esta finalidade, o Theatro Municipal. 

As transmissões ao vivo de óperas dos grandes centros para as periferias são benvindas. Mas não podem inviabilizar ou matar as produções locais. Se assim for, significarão uma "coppia inicua" entre comércio, finanças e arte. Boa para o Met. Péssima para nós.

Henrique Marques Porto

Anna Netrebko - "Coppia Inicua" - Ana Bolena

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Met 2011/2012: Netrebko é Ana Bolena




Esse ano, Viena assistiu a uma magnífica exibição de Ana Bolena de Gaetano Donizetti, compositor italiano de Bergamo (1797-1848). A platéia recebeu o espetáculo com raro entusiasmo, beirando os limites da apoteose. Boa parte se deve ao prestígio crescente da soprano russa Anna Netrebko, a diva do momento, em palcos de todo o mundo. O Rio de Janeiro terá a oportunidade de vê-la através das telas de cinemas no dia 15 de outubro, com gravação e espetáculo encenado no Metropolitan Opera House de New York. Esse status de diva, atribuído à Anna Netrebko, vem da beleza de sua voz e do que seria uma tentativa de seguir os passos de Maria Callas, quando rompendo com o repertório tradicional lírico e dramático, enveredou pelos caminhos do bel canto com óperas como Ana Bolena, sua 33ª ópera (1830), Lucia de Lammermmour, sua 47ª (1835) e Dom Pasquale, 69ª (1843), Norma, Il Puritani, La Sonambula, Armida. No meu conceito pessoal, essa comparação entre Callas e Netrebko é absolutamente inócua e muito difícil de ser avaliada. Os que conheceram Maria Callas guardam dela a sua personalidade vigorosa, o seu charme, o seu temperamento felino, além de uma voz única, que com uma extensão enorme e um timbre próprio, percorria os registros de meio soprano e as mais altas notas de soprano. Poderíamos defini-la como meio soprano, soprano liríco, dramático, coloratura, sfogatto. A avaliação entre as duas vozes peca pelo fato de termos uma Ana Bolena de 1957, remasterizada em 1997, onde completavam o elenco Gulietta Simionato e Nicola Rossi Lemeni no Teatro Scala de Milão. No próprio fascículo que acompanha os dois CD's, o fabricante lamenta a pobre qualidade técnica da gravação por deficiências na tecnologia da época. Nas gravações da atualidade, Netrebko tem a seu dispor um aparato de tecnologia que Callas, Gigli, Caruso ou Mário Del Monaco jamais puderam sonhar. Como compará-los então?
Até a próxima!