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quinta-feira, 7 de março de 2013

Parsifal. O Evangelho Segundo Wagner.







por Henrique Marques Porto 



Parsifal é uma espécie de Evangelho Segundo Wagner. Reduzido, vá lá. A vinda do "inocente tolo" é uma profecia. Jesus, o Redentor, também era. O Nazareno foi concebido "sem pecado". Parsifal não conheceu seus pais. Herzeleide, mulher pura e sua mãe, morreu de tristeza. Seria a Virgem Maria de Wagner. O sofrido João Batista ficou sem a cabeça por anunciar a próxima chegada do filho de Deus. O agonizante Anfortas –enfim salvo pelo milagre da lança e por Parsifal- seria seu similar. O batismo por água corrente ou "consagrada", aliás, está presente no Parsifal. Kundry é também uma personificação de Herodiade, aquela que riu da cabeça decapitada de João Batista. Por isso está amaldiçoada. Seria Klingsor a versão wagneriana para Herodes? O da matança dos inocentes, as crianças, por natureza "tolas". 

Por outro lado, Jesus também pode ser visto como um "inocente puro" ou "tolo puro". Apenas tinha domínio da palavra, era bom orador. Fazia milagres. Parsifal também faz. Com um gesto simples, semelhante aos do Cristo, neutraliza o poder da lança "sagrada" e a toma de Klingsor, como quem pega um doce da mão de uma criança.  

Mas, no fundo, o Parsifal não trata de religião, misticismo ou sobrenaturalidade. Trata de cultura e da formação cultural da Alemanha e do mundo ocidental. A cultura alemã e sua formação eram obsessões de Wagner e estão também no centro dessa ópera.

domingo, 20 de maio de 2012


 Dietrich Fischer-Dieskau
(1925-2012)


Dietrich Fischer-Dieskau, baixo-barítono alemão,  morreu na sexta-feira, dia 18 de maio, aos 86 anos. Casou quatro vezes, deixa filhos, e viúva a soprano Julia Varady, com quem se casou em 1977. Obituários diversos informam onde nasceu, como iniciou seus estudos, onde estreou e indicam, ainda, o que todos já sabemos –foi um dos maiores cantores do século passado.  

Talvez seja pouco dizer de Fischer-Dieskau que ele foi um dos grandes. A sua foi uma voz inovadora, capaz de apresentar versões únicas interpretando um repertório vastíssimo, que abrangia a música de câmara e a ópera.  Era uma voz-instrumento, como poucas foram, e a sonoridade desse instrumento não se alterava fosse cantando Schubert, Bach ou Verdi. Voz isolada, que não se pode comparar a nenhuma outra. 

A sólida formação como camerista deu a Fischer-Dieskau a dimensão exata da importância da palavra, do texto no canto. A interpretação dos Lieder exige do cantor atenção redobrada ao texto, muitas vezes negligenciado pelos cantores que se dedicam exclusivamente à ópera. Esse cuidado com o texto é notável quando Dieskau interprreta ópera. Exemplos são suas versões do Falstaff, regida por Leonard Bernstein, e de Rodrigo, no Don Carlo, regido por Georg Solti.  Mas se aproximava da perfeição em Mozart e Wagner.

Dietrich Fischer-Dieskau marcou uma geração inteira de amantes da música e é uma referência para grande número de cantores. Criou um estilo que gerou e continuará gerando muitos seguidores. Se quisermos nos dedicar ao exercício de elaborar uma lista com, digamos, as cinco mais belas vozes masculinas conhecidas, vai ser muito difícil não incluir o nome de Fischer-Dieskau

Com certeza, será lembrado mais por sua atuação no repertório camerista, onde produziu versões paradigmáticas, como o Die Winterreise (Viagem de inverno) de Schubert. Essas deliciosas canções não foram compostas para voz e “acompanhamento” de piano. Na verdade são duos para voz e piano, e a comunhão e o diálogo entre os dois instrumentos é uma imposição. Dieskau sabia disso. 

Fischer-Dieskau vinha se dedicando ao ensino de canto e era excelente professor. Deixa órfãos um bom número de jovens artistas. Vai fazer muita falta, justamente num período em que são visíveis as mudanças nas técnicas de canto –se é que ainda podemos usar, neste caso, o plural. Dieskau sai de cena quando o canto lírico está cada vez mais pasteurizado e submetido às imposições de regentes e encenadores, que andam servindo ópera como quem serve lanche em fast food

Henrique Marques Porto 


Dietrich Fischer-Dieskau - Masterclass

Fischer Dieskau & Sviatoslav Richter Schubert Lieder