domingo, 18 de setembro de 2016

A Primeira Temporada Lírica Nacional do TMRJ


Nas fotos: Alma Cunha de Miranda, Reis e Silva, Sylvio Vieira, Asdrúbal Lima, José Perrota e Violeta Coelho Netto de Freitas. À direita, Gabriella Besanzoni.

por Marcos Menescal

Pode-se dizer que até a década de 1930 não havia a menor possibilidade de se empreender uma carreira lírica profissional no Brasil.

Sair do país, iniciar uma carreira na Europa e ser contratado por uma companhia que “fizesse a América do Sul” era, praticamente, a única possibilidade de se cantar nos nossos dois mais importantes teatros. Foi assim com Nícia Silva, com Zola Amaro, com Hedy Iracema, com a grande Bidu Sayão.

Podia acontecer que um ou outro, dentre os nossos melhores cantores, fosse requisitado para preencher alguma brecha nos elencos da temporada, quando necessário. Eventualmente, alguém com influência política ou com dinheiro suficiente, por diletantismo, bancava uma participação na companhia internacional que estivesse nos visitando. Para dar um exemplo, em 1925, a “socialite” Bebê Lima Castro cantou a ‘Lucia di Lammermoor’ com Mingheti, Viviani e Pasero, no Municipal do Rio, com êxito duvidoso.

O quadro começou a mudar no início da década de 30, quando o Municipal do Rio levou à cena algumas óperas com os estudantes da Escola de Canto do Teatro, em que participaram alguns nomes que vieram a fazer carreira profissional nos anos subsequentes.

Em 1934 foi a vez da estreia brasileira da ‘Maria Tudor’ de Carlos Gomes, esquecida desde a sua desastrosa estreia no Scala de Milão, em 1879. Nessa ocasião cantaram Reis e Silva, Carmen Gomes, Antonieta de Souza e Asdrúbal Lima, sob a regência de Mignone. Interessante é que este ainda pouco experiente elenco cantou as primeiras récitas da ópera, sendo depois substituído por grandes celebridades da época, como Gina Cigna, Ebe Stignani, Victor Damiani e o maestro Panizza.

Mas a cartada definitiva foi dada por Gabriella Besanzoni, o célebre mezzo soprano italiano, então retirada no seu suntuoso palacete do Parque Lage.

Em 1937, a Besanzoni reuniu todos os cantores brasileiros à disposição e montou a primeira grande temporada lírica nacional, levando ao palco 17 óperas completas, com elencos variados, em que despontavam os sopranos Violeta Coelho Netto de Freitas, Alzira Ribeiro, Thea Vitulli, Abigail Parecis, Alma Cunha de Miranda, Ruth Valadares Corrêa, Alaíde Briani, Carmen Gomes, Nanita Lutz, Heloisa de Albuquerque e Germana de Lucena; os mezzo sopranos Julita Fonseca, Marion Matthaeus, Anita Fitipaldi e Ana Maria Fiuza; os tenores Reis e Silva, Machado Del Negri, Marcel Class e Roberto Miranda; os barítonos Asdrúbal Lima, Ernesto De Marco e Sylvio Vieira, e os baixos José Perrota, Lisandro Sergenti e João Athos, entre muitos outros cantores.

Personagens principais foram interpretados, em diferentes récitas, por até cinco diferentes cantores. Algumas participações foram bastante inusitadas, como a da vedete Margarida Max, em ‘Tosca’, ou a da cantora de música folclórica Dilú Melo, em ‘La Bohème’ (Musetta). A intenção, ao que parece, era dar o máximo de oportunidades, e testar e revelar o maior número possível de cantores válidos.

O fato é que essa primeira experiência alcançou um grande sucesso de público e, pelas décadas seguintes, prosseguiram as temporadas nacionais, com absoluta regularidade, revelando grandes nomes de saudosa memória como Diva Pieranti, Ida Miccolis, Assis Pacheco, Paulo Fortes e tantos outros.


Acho que não seria exagerado afirmar que devemos à iniciativa da grande Besanzoni o primeiro esforço no sentido da possibilidade de uma verdadeira atividade artística, profissional e regular, para os cantores líricos do Brasil.

12 comentários:

  1. Excelente e muito informativo o artigo de Marcos Menescal.
    Parabéns!!!
    Você tem muito a dizer!
    Bjs.

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  2. Excelente e muito informativo o artigo de Marcos Menescal.
    Parabéns!!!
    Você tem muito a dizer!
    Bjs.

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  3. Maravilha Marcos! Um prazer ler teu artigo e conhecer alguns nomes que infelizmente nunca tinha ouvido falar antes. Obrigado por manter viva a memoria e o legado do nosso tao querido TMRJ. Abraco forte!

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    1. Obrigado, amigo Igor Vieira! Um grande abraço!

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  4. Maravilha Marcos! Um prazer ler teu artigo e conhecer alguns nomes que infelizmente nunca tinha ouvido falar antes. Obrigado por manter viva a memoria e o legado do nosso tao querido TMRJ. Abraco forte!

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  5. Que artigo saboroso! Bravo! Quanto tempo à espera de algo assim tão didático, informativo e abrangente... Parabéns Marcos Menescal!!!

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  6. Parabéns pelo artigo e por ter falado da Heloisa Albuquerque

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