sexta-feira, 28 de maio de 2021

 

 Walter Neiva

(1965-2021)

por Henrique Marques Porto

O falecimento precoce de Walter Neiva, em 26 de maio de 2021, neste tempo de peste e perdas, comoveu boa parte dos amantes de música, e de ópera em particular, no Brasil e em outros países, aonde trabalhou e fez amigos. Mas, não foi a Pandemia de Covid-19 que o levou. O coração sensível falhou.  Que seus familiares e amigos estejam recebendo conforto e carinho. Acrescento os meus, com um forte abraço em todos. 

Infelizmente não cheguei a conhecê-lo pessoalmente. Mas conversamos muito por rede social. Pertencendo a gerações diferentes (eu quinze anos mais velho) notava nele um profundo conhecimento sobre a ópera no Brasil, e não apenas no eixo Rio-São Paulo. 

Ele não tinha nascido e eu já frequentava os teatros. Walter me surpreendia porque demonstrava grande conhecimento sobre o que não tinha testemunhado -montagens, elencos etc. Ele estudava e lia. Conhecia, como poucos, cantores e cantoras antigos e atuais. Conhecia as partituras e os textos de muitas óperas. E os respeitava, coisa rara entre os diretores atuais. Contudo, nada tinha de conservador. Pelo contrário. Procurava inovar, mas jamais recorrendo aos clichês fáceis e comerciais que, em tantos casos, vem produzindo montagens feias e equivocadas. 

A Flauta Mágica, em 2013, em Lima-Peru

 



Os cenários que criou para a Flauta Mágica, de Mozart, chamaram a atenção. Tudo em papel! Cenários desmontáveis, dobráveis, fáceis de guardar e de manter. Cenários bonitos e de baixíssimo custo. Mas nossos teatros, nos últimos anos, mesmo sofrendo com uma atroz falta de recursos, estão mais interessados em cenários caros. Na costumeira penúria em que vive o Teatro Municipal do Rio de Janeiro, por exemplo, chegamos a ter montagens de 3 milhões de reais! E que não convenceram o distinto público. 

Walter Neiva montou e dirigiu uma única ópera no Rio, Cosi Fan Tutte, em agosto de 1989. 

Do Walter fica a memória do homem inteligente, estudioso, criativo e sensível. Um cara do Bem, um humanista. E com um tremendo bom gosto.


Detalhe do Jardim de Walter Neiva

Walter era, também, paisagista. Gostava de mostrar suas flores e as orquídeas que cultivava. Agora estão órfãs. Certa vez postou uma foto de seu jardim. Pode-se ver um cenário vivo, com plantas, flores e ornamentos de todas as cores. Um jardim para ser mostrado nas revistas especializadas. Que ele seja conservado e cuidado porque Walter está lá. 

Uma parte da memória da ópera no Brasil foi-se com ele. As tardes de sábado estarão mais vazias sem o Seguindo a Ópera, programa que ele produzia e apresentava na Cultura FM. 

Para quem não conheceu o seu trabalho e trajetória recomendo uma visita a seu site: https://www.walterneiva.com/