quinta-feira, 28 de março de 2013

Abertura da temporada sinfônica do Rio de Janeiro





por Reinaldo Guimarães


Nos dias 22 e 23 foi aberta a temporada sinfônica no Rio, no Theatro Municipal (da Sala Cecília Meirelles nem se ouve mais falar). Na sexta, 22, a Orquestra Petrobrás Sinfônica com Karabtchevsky, e no dia seguinte a OSB com Roberto Minczuk. 

Apesar da idade, o maestro Karabtchevsky luta com (ou seria contra?) uma orquestra fraca. No espetáculo inaugural -com repertório em homenagem ao bicentenário de nascimento de Verdi, com peças sacras sinfônico-corais (Ave Maria, Stabat Mater, Laudi a la Vergine Maria e o Te Deum) e fragmentos de óperas (“La Forza del destino”, “Nabucco”, “Il Trovatore” e “Aida”) -não me convenceu. Registro a boa forma do Coro Sinfônico do Rio de Janeiro, dirigido pelo maestro Julio Moretzsohn, afinado, eloquente, jovem. 

Já na programação da OSB, uma excelente orquestra e um maestro com ela na mão nos encheram olhos e ouvidos. Uma estreia mundial de um concerto de Paulo Aragão para violão em homenagem aos 150 anos de Ernesto Nazareth com Yamandú Costa solando, um György Lygeti em grande momento -Concert Romanesc-, uma peça de Ottorino Respighi -Impressões Brasileiras- e a Bachiana Brasileira n. 7,  de Villa-Lobos.

domingo, 24 de março de 2013

Magda Olivero. A história viva de quase um século de ópera!







Magda Olivero 103 anos!


por Henrique Marques Porto

Os amantes da ópera em todo o mundo estão em festa. Magda Olivero completa hoje (em muitos países já é dia 25 de março) 103 gloriosos anos!

Maria Maddalena Olivero nasceu em Saluzzo, em 25 de março de 1910. Uma voz e uma personalidade únicas na história do canto. Não há paralelo possível entre a Olivero e as cantoras atuais, ou mesmo entre as cantoras de sua geração. É um ícone verdadeiro do canto lírico, reforçado pela grande longevidade que ela alcança serena, lúcida e com saúde.

Sua longa carreira une mais de uma geração de grandes cantores. Cantou com Tito Schippa, Beniaminio Gigli e Giacomo Lauri-Volpi; com Mario Del Monaco, Franco Corelli, Giuseppe Di Stefano e Carlo Bergonzi; e alcançou Placido Domingo e Luciano Pavarotti. Magda Olivero é a história viva de quase um século de ópera!

Magda levantou platéias no mundo inteiro. Não apenas nos grandes teatros, mas também em países distantes e nos teatros de província. As artistas "famosas" cantavam apenas no grande circuito e gravavam muito. La Olivero cantava nos grandes centros, mas também nos teatros onde os cantoras de grande fama foram poucas vezes, se é que foram.

Magda se apresentou para os públicos de centenas de cidades de todos os países e todos os continentes. O Rio de Janeiro a recebeu em 1964. Foram apresentações inesquecíveis. Esse público -que hoje assiste óperas em DVDs ou nas transmissões ao vivo dos cinemas- teve contato direto com a arte superior e refinada de Magda Olivero e aprendeu muito com ela. Talvez por isso Magda tenha se transformado numa unanimidade entre os amantes de ópera.

Magda Olivero é chamada por muitos de “A última diva do verismo”. Talvez seja a diva verdadeira, a diva real, aquela que foi possível ver de perto, de quem se pode conseguir a atenção de uma palavra amável e um autógrafo. Magda não é um mito. É um ícone da ópera! 

Buon cumpleanno, carissima Signora! E muito, muito obrigado! 


Mefistofele - Ato 3 - Rio de Janeiro, 1964.
Magda Olivero-Flaviano Labò-Cesare Siepi  


quinta-feira, 7 de março de 2013

Parsifal. O Evangelho Segundo Wagner.







por Henrique Marques Porto 



Parsifal é uma espécie de Evangelho Segundo Wagner. Reduzido, vá lá. A vinda do "inocente tolo" é uma profecia. Jesus, o Redentor, também era. O Nazareno foi concebido "sem pecado". Parsifal não conheceu seus pais. Herzeleide, mulher pura e sua mãe, morreu de tristeza. Seria a Virgem Maria de Wagner. O sofrido João Batista ficou sem a cabeça por anunciar a próxima chegada do filho de Deus. O agonizante Anfortas –enfim salvo pelo milagre da lança e por Parsifal- seria seu similar. O batismo por água corrente ou "consagrada", aliás, está presente no Parsifal. Kundry é também uma personificação de Herodiade, aquela que riu da cabeça decapitada de João Batista. Por isso está amaldiçoada. Seria Klingsor a versão wagneriana para Herodes? O da matança dos inocentes, as crianças, por natureza "tolas". 

Por outro lado, Jesus também pode ser visto como um "inocente puro" ou "tolo puro". Apenas tinha domínio da palavra, era bom orador. Fazia milagres. Parsifal também faz. Com um gesto simples, semelhante aos do Cristo, neutraliza o poder da lança "sagrada" e a toma de Klingsor, como quem pega um doce da mão de uma criança.  

Mas, no fundo, o Parsifal não trata de religião, misticismo ou sobrenaturalidade. Trata de cultura e da formação cultural da Alemanha e do mundo ocidental. A cultura alemã e sua formação eram obsessões de Wagner e estão também no centro dessa ópera.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Parsifal – “Gesamtjunsterke”. Obra de arte total, festiva e votiva.



René Pape, Jonas Kauffmann e Katarina Dalayman


por Ildefonso Côrtes

Semana que precede à estreia de Parsifal, em tempo real, Nova York, temporada 2013, Metropolitan Opera House, uns dos templos da ópera no mundo.


          Em casa, revivo cenas gravadas no Festival de Bayreuth, Siegfried Jerusalem, Parcifal. No templo wagneriano, na cidadezinha alemã de Bayreuth, o teatro construído pelo Rei Ludwig II, da Baviera para acolher, todos os anos, representações das óperas de Richard Wagner (1813-1883), de quem o monarca era admirador apaixonado e mecenas. 
 A encenação contava com Orchester und Chor der Bayreuther Festspiele regidos por Horst Stein e Norbert Balastch, respectivamente.


          Não sei se à época respeitava-se o desejo de Wagner de que os espectadores se abstivessem de aplausos entre primeiro, segundo e terceiro atos, a fim de não dissipar o clima de encantamento místico, o caráter de unção religiosa, que a música transcendente criava na audiência. (Continua)