Dietrich Fischer-Dieskau
(1925-2012)
Dietrich Fischer-Dieskau, baixo-barítono alemão, morreu na sexta-feira, dia 18 de maio, aos 86 anos. Casou quatro vezes, deixa filhos, e viúva a soprano Julia Varady, com quem se casou em 1977. Obituários diversos informam onde nasceu, como iniciou seus estudos, onde estreou e indicam, ainda, o que todos já sabemos –foi um dos maiores cantores do século passado.
Talvez seja pouco dizer de Fischer-Dieskau que ele foi um dos grandes. A sua foi uma voz inovadora, capaz de apresentar versões únicas interpretando um repertório vastíssimo, que abrangia a música de câmara e a ópera. Era uma voz-instrumento, como poucas foram, e a sonoridade desse instrumento não se alterava fosse cantando Schubert, Bach ou Verdi. Voz isolada, que não se pode comparar a nenhuma outra.
A sólida formação como camerista deu a Fischer-Dieskau a dimensão exata da importância da palavra, do texto no canto. A interpretação dos Lieder exige do cantor atenção redobrada ao texto, muitas vezes negligenciado pelos cantores que se dedicam exclusivamente à ópera. Esse cuidado com o texto é notável quando Dieskau interprreta ópera. Exemplos são suas versões do Falstaff, regida por Leonard Bernstein, e de Rodrigo, no Don Carlo, regido por Georg Solti. Mas se aproximava da perfeição em Mozart e Wagner.
Dietrich Fischer-Dieskau marcou uma geração inteira de amantes da música e é uma referência para grande número de cantores. Criou um estilo que gerou e continuará gerando muitos seguidores. Se quisermos nos dedicar ao exercício de elaborar uma lista com, digamos, as cinco mais belas vozes masculinas conhecidas, vai ser muito difícil não incluir o nome de Fischer-Dieskau.
Com certeza, será lembrado mais por sua atuação no repertório camerista, onde produziu versões paradigmáticas, como o Die Winterreise (Viagem de inverno) de Schubert. Essas deliciosas canções não foram compostas para voz e “acompanhamento” de piano. Na verdade são duos para voz e piano, e a comunhão e o diálogo entre os dois instrumentos é uma imposição. Dieskau sabia disso.
Fischer-Dieskau vinha se dedicando ao ensino de canto e era excelente professor. Deixa órfãos um bom número de jovens artistas. Vai fazer muita falta, justamente num período em que são visíveis as mudanças nas técnicas de canto –se é que ainda podemos usar, neste caso, o plural. Dieskau sai de cena quando o canto lírico está cada vez mais pasteurizado e submetido às imposições de regentes e encenadores, que andam servindo ópera como quem serve lanche em fast food.
Henrique Marques Porto
"Voz única"- concordo com você, Henrique. Na gravação da Paixão Segundo São Matheus, sob regência do Karl Richter, a voz dele se inscreve como um ícone, um paradigma de beleza de interpretação do repertório barroco religioso, de certa forma, difícil de cantar, sobretudo para quem também transita pelo mundo da ópera de outros estilos, estéticas e épocas. lamentável perda!!!
ResponderExcluirOntem mesmo ouvi, pela enésima vez, a ária para baixo da "Paixão" (a última). Dieskau era perfeito em Bach. Ouça, por exemplo, a ária "Ich habe genug", da Cantata BWV 82. Richter regendo. Em http://www.youtube.com/watch?v=foHTQ2qGozs&feature=related
Excluirbeijão
Henrique