por Comba
Marques Porto
A montagem desta Aida despertou o
entusiasmo do público. Afinal, era a primeira ópera da "temporada" de
2013. Era a comemoração do bicentenário de nascimento de Verdi. Era a estreia
do maestro Karabtchevsky na direção da programação de ópera do TM. Era a
primeira ópera montada depois dos noticiados conflitos entre a administração do
teatro e seus corpos estáveis, estes fragilizados pela inércia dos gestores
quanto à realização dos concursos públicos necessários à completar os conjuntos
e, assim, estruturar suas atuações em temporadas bem planejadas, dando vida à
casa que, lamentavelmente, mais vem servindo à locação para eventos variados do
que à apresentação dos programas mais condizentes com sua história, a ópera em
especial.
Aida não é uma ópera popular por
acaso. É muito mais que a sua Marcha
Triunfal. É obra que transcende o fato de ter sido escrita por encomenda
para a comemoração da abertura do Canal de Suez. A partitura desta ópera contém
trechos belíssimos, verdadeiro alento para quem vai à ópera em busca da boa
música. Quando bem executada, podemos sorver toda a riqueza da escrita de
Verdi.
Sempre me emociono com o final do 2º ato. Verdi de fato soube conquistar o público com aquela configuração em tutti, aliás, presente em outras de suas óperas: solistas em sexteto, coro, vigorosa massa orquestral.
O final do 2º ato, a meu ver, foi o momento
mais significativo da estreia de sábado. Foi bonito ver o público aclamando o
coro, os bailarinos e a orquestra do seu
teatro de ópera. Sem dúvida, a regência de Isaac Karabtchvsky em muito
contribuiu para os acertos de coro e orquestra. Senti aqueles efusivos aplausos
como que carregados de algo mais que uma satisfação momentânea.
Corporificaram-se ali vivências remotas de um público fiel à ópera, de um
público caloroso, mas não menos exigente, feito da gente engalanada somada à
massa que se apertava nos bancos da galeria (até 1934 não havia cadeiras
numeradas neste setor). Gente que deixou suas emoções gravadas naqueles
mármores, nos pilares do palco, naquela rica cúpula, gente que fez a glória de
muitos cantores e determinou o fim das carreiras de tantos outros.
Na estreia de ontem, assistiu-se a uma
apresentação de altos e baixos, de belezas e de temeridades. A ópera quase foi a nocaute no terceiro ato.
O que se passou com o tenor Rubens Pellizari
no intervalo entre o 2º e o 3º ato? Deprimiu-se subitamente? O som do arrastar
de suas sandálias foi verdadeira metáfora de sua falta de ânimo. Se já não foi
dos melhores desde o início, seu desempenho vocal parecia rolar ladeira abaixo,
entre desafinações e agudos mal sustentados. Em outros tempos, teria sido
simplesmente vaiado.
A soprano Fiorenza Cedolins ficou muito longe
de empolgar no papel título. Lastimável sua atuação no 3º ato. Por milagre, ou
porque somos hoje bem mais tolerantes, escapou da vaia. Oxalá estes solistas sejam capazes de superar
suas dificuldades para melhor honrar o contrato nas récitas restantes.
A mezzo Anna Smirnova brilhou, sim, com sua
Amneris, sobretudo na cena do julgamento -4º ato), um dos trechos mais belos
escritos por Verdi para a sua Aida. Pena é que a ópera pede harmonia de
qualidade de seu elenco. Quando hoje me perguntaram o que achei da ópera (para
a qual fui com o mesmo entusiasmo de toda a vida) eu não sabia bem o que
responder. Dizer que foi parcialmente boa? Não me convenço com tal
resposta. Agradeço ao maestro Isaac
Karabtchesky por seu trabalho, pelo empenho em dirigir um bom espetáculo. Mas
ele bem sabe que sem um bom tenor e um bom soprano não se faz uma Aida
para ser lembrada.
Aguardemos agora a próxima atração: “Die
Walküre”, em celebração do bicentenário de Richard Wagner.
Comba quem conhece a ópera, viu a récita de estréia com seu comentário. Muito bom; pena que os deslizes tenham acontecido como muito bem narrado por você.
ResponderExcluirAhhh... Obrigada, Raulino. Pois... Apenas uma boa solista para um conjunto de 6, não dá, não é? Fosse no tempo de nossos pais, o uhuhuhuhh! da vaia soaria tão significativo quanto os aplausos emocionados ao coro, maestro e orquestra no final do 2º ato. Beijo.
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