por Reinaldo Guimarães
Nos dias 22 e 23 foi aberta a temporada sinfônica no Rio, no Theatro Municipal (da Sala Cecília Meirelles nem se ouve mais falar). Na sexta, 22, a Orquestra Petrobrás Sinfônica com Karabtchevsky, e no dia seguinte a OSB com Roberto Minczuk.
Apesar da idade, o maestro Karabtchevsky luta com (ou seria contra?) uma orquestra fraca. No espetáculo inaugural -com repertório em homenagem ao bicentenário de nascimento de Verdi, com peças sacras sinfônico-corais (Ave Maria, Stabat Mater, Laudi a la Vergine Maria e o Te Deum) e fragmentos de óperas (“La Forza del destino”, “Nabucco”, “Il Trovatore” e “Aida”) -não me convenceu. Registro a boa forma do Coro Sinfônico do Rio de Janeiro, dirigido pelo maestro Julio Moretzsohn, afinado, eloquente, jovem.
Já na programação da OSB, uma excelente orquestra e um maestro com ela na mão nos encheram olhos e ouvidos. Uma estreia mundial de um concerto de Paulo Aragão para violão em homenagem aos 150 anos de Ernesto Nazareth com Yamandú Costa solando, um György Lygeti em grande momento -Concert Romanesc-, uma peça de Ottorino Respighi -Impressões Brasileiras- e a Bachiana Brasileira n. 7, de Villa-Lobos.
A OSB melhora a cada temporada e o maestro Minczuk demonstra com fatos que a reforma artística que patrocinou, a despeito de trapalhadas de condução política, foi correta e dá resultados a olhos vistos (melhor seria “a ouvidos escutados”). No concerto de ontem, aberto com uma fina interpretação do Hino Nacional Brasileiro, acompanhada pelo canto da plateia, Minczuk fez um comentário simpático dando as boas vindas a mais uma temporada da OSB. Se houve alguma ferida deixada pela peleja política de 2011, acho que ela está cem por cento cicatrizada.
O concerto em homenagem a Nazareth, estreia mundial, tem três movimentos: um “tango brasileiro” (nome, aliás, meio ridículo, tentativa pedante de branquear o nosso legítimo e crioulo maxixe), uma valsa muito bonita e um choro que homenageia vários choros famosos. Fiquei meio ressabiado com a escolha do Yamandú como solista. Em primeiro lugar porque acho que na maioria das vezes, colocar instrumentistas de música de concerto para tocar música popular e vice-versa não dá certo, sendo que os maiores fiascos costumam ocorrer com pianistas e violonistas. Em segundo lugar, porque Yamandú, a despeito de ser um virtuose respeitabilíssimo, é o que se poderia chamar de um “narcisista indisciplinado”; parece não gostar muito de partituras e de gostar muito de tocar para si mesmo, esquecendo os demais ouvintes.
Entretanto, o resultado foi bom porque o tempo parece estar fazendo com que o narcisismo esteja diminuindo. Só não foi melhor porque na maior parte da peça, o violão foi abafado pela orquestra. Não tenho condições de julgar se o problema foi composicional (há algum tempo ouvi o Turíbio Santos falar sobre a necessidade de, nos concertos para violão e orquestra, compatibilizar a potência da orquestra com a timidez sonora do instrumento solista), ou se foi uma mera questão técnica, de maior ou menor proximidade do violão com o microfone que amplificava seu som (sim, estava amplificado). Yamandú deu dois bis. O famoso “Brejeiro” de Nazareth num arranjo, creio que do próprio Yamandú, e uma belíssima valsa, acho que também do Nazareth.
Confesso que receava o Concert Romanesc (1952) de György Lygeti, compositor húngaro que na maior parte de sua obra abraçou o atonalismo. Bobagem. A peça se desenvolve na melhor tradição de Bela Bartok e, principalmente, Zoltan Kodaly, e é assentada quase toda em temas folclóricos húngaros (“czardas” e outros que me escapam). Neste Lygeti, a OSB, principalmente seu naipe de cordas, mostrou a que veio. Prestíssimos e staccatos que, imagino, sejam muito difíceis. Bons músicos e, insisto, um maestro com a orquestra na mão.
A segunda parte começou com o “compositor de Roma” (Festas, Fontes, Pinheiros). Respighi é um italiano que, acho, deveria ter nascido francês, a despeito da paixão que ele tinha por sua cidade de adoção (nasceu em Bologna). Essa especulação deriva da minha percepção de tons impressionistas não apenas nessa, mas também em outras peças dele. O nome da obra que ouvimos é Impressioni brasliane, composta em 1928 durante uma visita ao Brasil (estreou no Rio). São três movimentos –Noite Tropical, Butantã e Danças Brasileiras. O segundo movimento é descrito na Wikipedia como “a sinister Picture of a snake research institute, Instituto Butantan, that Respighi visited in São Paulo”. Até o concerto da OSB jamais havia tido notícia dessa obra que vale, na minha audição, pelo terceiro movimento.
A última peça da noite de sábado foi a Bachiana n. 7 de Heitor Villa-Lobos. Interpretação vibrante dessa Bachiana que não é uma das mais celebradas dentre as nove. Na peça, gosto em particular do flerte permanente de Villa com os temas populares que ele desenvolve e expressa em formações instrumentais originais. Muita percussão, como de hábito. Vale ainda o registro da Fuga final, talvez a mais bachiana de todas as homenagens de Vella-Lobos a J.S. Bach. Isso num andamento que por vezes sugere uma marcha-rancho carioquíssima.
Concerto Nazareth, para Violão, de Paulo Aragão
Yamandú Costa e Orquestra Sinfônica Brasileira
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