Giangiacomo Guelfi
Uma das mais poderosas vozes de barítono da segunda metade do século passado silenciou. Giangiacomo Guelfi morreu hoje em Bolzano, aos 87 anos. Ele estava hospitalizado há uma semana. A notícia foi dada por sua família.
Guelfi nasceu em Roma, no dia 21 de dezembro de 1924. Estudou direito antes de se dedicar ao canto. Foi aluno de Tita Ruffo, um ícone da ópera em todos os tempos. Sua estréia foi em 1950, cantando o Rigoletto na cidade de Spoleto. Dois anos depois estreou no Teatro alla Scalla. A carreira se desenvolveu rápido, o que o levou a todos os principais teatros de ópera do mundo.
Guelfi foi um cantor de excepcionais recursos. A voz era generosa, de timbre denso e volume enorme. Na história do canto só houve similar no jovem Carlo Galeffi, com quem tinha muitas afinidades. Era excelente intérprete dos papéis verdianos, mas a voz rendia de forma especial no verismo. Seu Scarpia, da Tosca, de Puccini, era perfeito, vocal e cenicamente.
Giangiacomo Guelfi cantou no Rio de Janeiro no final dos anos 50, em 1964 e em 1969. Inesquecíveis a Tosca e a Fanciulla del West de 1964, com Magda Olivero. Nessa temporada cantou também o Macbeth, de Verdi, com a soprano Marcella de Osma. Em 1969 se apresentou pela última vez para a platéia carioca, em curta temporada com o elenco de Teatro San Carlo de Napoles. Cantou o Nabucco, de Verdi, e La Gioconda, de Ponchielli, contracenando com Elena Suliotis e o tenor Gianni Raimondi.
Guelfi é uma voz rara, dessas que surgem em intervalos de muitas décadas. O título correto deveria ser "Giangiacomo Guelfi não morreu!" A voz de Guelfi permanecerá viva por muitos anos nas gravações e na memória dos que tiveram o privilégio de vê-lo cantar.
La Gioconda - Dueto e Ária - Gian Giacomo Guelfi
e Gianni Raimondi - Rio de Janeiro, 1969
Guelfi é um ícone do canto lírico que habita e para sempre habitará a minha memória musical. Quantas alegrias ele nos trouxe em suas passagens pelo Rio de Janeiro!!! Guelfi era a prova de como é bom ver uma ópera bem cantada, bem montada. Eu estava lá no Theatro Municipal nas récitas mencionadas por Henrique. Aliás, estávamos juntos, aproveitando o que se possa chamar do "último canto" das legendárias temporadas líricas no Rio de Janeiro. Hoje o que temos são montagens visivelmente mal ensaidadas, em que algumas participações se destacam, num contexto artístico para lá de precário. Foi o caso de Juan Pons e Sondra Radvanovsky na Tosca encenada em 2011. Do jeito que a coisa vai, ópera no Rio agora só vale a pena no cinema. Parabéns, Henrique, pelo registro.
ResponderExcluirMinhas lembranças de Gian Giacomo Guelf me levam aos anos 50 e 60 quando a ópera absorvia todo o meu interesse e freqüentava assiduamente a galeria do Teatro Municipal. Ia sentado nos balcões, onde muitas vezes a influência do Tio Henrique me garantia o bilhete, ou assistia de pé à frente dos pilares, imóvel para não atrapalhar a ninguém. Até mesmo sentado nos degraus de acesso ou nos degraus laterais por onde se entrava pela grande cortina vermelha, nos cantos da galeria. O que me ficou de Guelf foi uma voz poderosa, de grande extensão, e de seu físico avantajado com o busto desnudado pela pele de leão que lhe cobria partes do peitoral imenso e pintado de negro. Era o guerreiro "indomabile", "feroce" que conduzia os etíopes irmãos de Amneris contra as hostes de Radamés, amante de Aída e rival de Amneris (3º ato).
ResponderExcluirBoas lembranças do meu alvorecer na ópera e da companhia do velho Tio Henrique.
Ilodefonso Marques Porto Côrtes.
Este foi o maior barítono que conheci ao vivo. Ouví-lo cantar Nabucco e La Gioconda ambas em 1969; a Aida, Carmen e a "Tosca", depois La Bohéme e novamente a "Tosca", das quais a sua interpretação do Barão Scarpia é inigualável até hoje, (2012). Além da grande voz de barítono dramático "Verdiano" um grande artista no palco: grandioso, solene, imponente em todos os sentidos. Quem viu, viu; quem não viu, nunca mais verá artista igual !
ResponderExcluirMarco Antonio Seta.
Concordo plenamente, Marco Antônio.
ExcluirGianGiacomo Guelfi possuía uma voz especial, formada numa escola de canto que, infelizmente, está desaparecendo.
O agudo final de "Oh, monumento" ("Parla!"), da Gioconda, que Guelfi cantou em 1969, deve estar balançando os lustres do Theatro Municipal até hoje!
Obrigado pela visita e um abraço.
Henrique