por Marcos Menescal
Em 1995 o grande barítono
brasileiro Paulo Fortes completou 50 anos de carreira. Havia estreado no Theatro
Municipal do Rio de Janeiro em 1945, aos 22 anos de idade, como Germont em “La
Traviata”, depois de longo e rigoroso treinamento na classe de Gabriella
Besanzoni, o célebre mezzo soprano italiano.
Naquele ano Paulo protagonizou
o “Gianni Schicchi” em seis récitas memoráveis do “Trittico” de Puccini no Municipal.
Estava escalado para cinco récitas de “La Traviata”, que seria levada logo
depois por uma companhia independente, quando comemoraria oficialmente o seu
cinquentenário interpretando a mesma ópera da sua estreia.
A “Traviata” foi levada como
estava prevista, mas as récitas de Paulo, por motivos que aqui não cabe
recordar, foram canceladas.
Sabendo que a comemoração havia
sido frustrada, o diretor do Teatro naquela época, Emílio Kalil, chamou Paulo
para uma conversa e lhe perguntou:
“-Em que data foi a sua
estreia?”
Paulo respondeu: “-Em 5 de
outubro de 1945.”
“Ótimo!”, disse Kalil após
consultar a agenda do Teatro, “Temos o dia 5 de outubro livre. Vamos fazer a
sua festa nesse dia.”
Passaram a combinar o programa.
Aliás, combinar é força de expressão porque Kalil deixou o programa inteiramente
a critério de Paulo.
Assim, no dia 5 de outubro de
1995, com o Teatro abarrotado de gente, os cantores Céline Imbert e Eduardo Alvares, com o Maestro Alessandro Sangiorgi à frente da orquestra, abriram a
noite cantando as árias e o dueto final do “Andrea Chénier”.
Iniciou-se então o segundo ato
da “Traviata”. Depois da aria inicial, cantada pelo tenor Rubens Medina, e do
breve diálogo que se segue à aria, Paulo entrou em cena.
Palavras não podem descrever
(ou pelo menos eu não conseguiria) a reação do público à entrada do seu adorado
artista. Um aplauso que parecia interminável, por vários minutos, com gritos
entusiasmados de “bravo”.
Restabelecido o silêncio, Paulo
fez soar a sua belíssima voz, absolutamente fresca e conservada apesar dos seus
72 anos de idade, com as palavras: “Madamigella Valéry?”, respondidas pela voz
aveludada do soprano Ruth Staerke (Violetta).
O ato prosseguiu, sob aplausos
delirantes: dueto, encontro com o filho, e o grande momento: a aria “Di
Provenza il mare” que atestou a grandeza intacta do homenageado.
Depois do intervalo, foi dado o
“Gianni Schicchi” completo com Paulo, Edna D’Oliveira, Vincenzo Cortese e um
vasto elenco (do qual eu participava no papel de Gherardo).
Terminada a ópera, comparecemos
todos ao proscênio onde Paulo Fortes foi homenageado e condecorado pela direção
do Teatro e, em seu belo e emocionado discurso de agradecimento, homenageou
Alaide Briani e o Maestro Santiago Guerra, respectivamente sua primeira
Violetta e seu primeiro regente, ambos instalados nos dois camarotes de boca de
cena.
Assim Paulo Fortes comemorou o
seu cinquentenário e recebeu suas merecidas homenagens, deixando em todos os
presentes a certeza de terem participado de uma das noites de ópera mais
emocionantes da história do Teatro Municipal.
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